
Eduardo Vasco
O neoliberalismo pulverizou a classe operária e fez retroceder sua consciência política.
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Washington Quaquá, vice-presidente do PT e prefeito de Maricá, orgulha-se de ser "esquerda raiz". Por isso armou a guarda municipal até os dentes e comemorou as chacinas do Alemão e da Penha. Quaquá é o melhor exemplo da adoção a alta velocidade da política e das ideias da burguesia pela esquerda, para melhor se posicionar na fila dos cargos públicos e subir na carreira. Está tão atolado nos preconceitos da burguesia, que diz que a classe operária quer a mão pesada do Estado no combate à criminalidade.
Quaquá procura se vestir de "esquerda raiz", mas os militantes da classe operária, do movimento negro e das favelas nunca defenderam a polícia, pelo contrário: o fim da PM é uma das pautas mais unânimes e tradicionais das classes oprimidas. O antagonismo entre os pobres e a polícia existe desde a colônia, a polícia sempre foi usada para sua função primordial de massacrar o povo, também no império e na república. A raiz da esquerda sempre esteve fincada na emancipação em relação à classe dominante, cuja face conhecida pelos moradores das favelas é a caveira do Bope. Quaquá se agarra na propaganda da extrema-direita porque segue inteiramente as ordens da burguesia para aplicar a política dos capitalistas. A política da burguesia e do imperialismo - inclusive das ONGs "humanitárias" - é a do esmagamento do povo, do aumento da força repressiva do Estado. Essa é a política "moderninha" da burguesia, a política dos tempos de decomposição do capitalismo, a qual o "favelado" Quaquá busca aplicar - essa sim é a "pautinha de classe média", para usar os seus termos. Basta ver como nos bairros "nobres" se apoia a repressão às favelas, porque nos bairros ricos a polícia age para proteger a propriedade dos moradores, quase como uma guarda pessoal de cada morador. Nas favelas, é execução de menores e decapitação.
O Mussolini de Maricá diz que "o bandido oprime o povo" e por isso o povo ama a polícia - e por isso ele arma a guarda municipal e anda de mãos dadas com a PM bolsonarista. Quaquá gosta tanto da favela que comemorou a maior chacina da história e chamou de "heróis do Estado brasileiro" os algozes que levaram dor a tantas famílias trabalhadoras. Policiais que invadiram os morros e, tal como o judiciário, pisotearam a lei criada pela própria burguesia: qualquer favelado era suspeito de ser criminoso, qualquer suspeito se tornou culpado e, culpado, foi fuzilado.
"Mas eram bandidos, já tinham passagem pela polícia", alguém poderá dizer. Na favela, a polícia coloca quem ela quiser dentro de um camburão e leva para a delegacia sem qualquer justificativa legal. Para um inocente, não é difícil ter passagem pela polícia. Ficha criminal é certificado de bandidagem? Os maiores bandidos do país jamais entraram em uma delegacia (e outros trabalham dentro das delegacias...) Como diz A Internacional, "o crime do rico a lei o cobre": roubar metade da riqueza produzida pelo país não é crime, é o cumprimento da lei. Crime é o cidadão, que é obrigado a entregar parte de seu salário para os capitalistas (tanto em forma de mais-valia, quanto em forma de impostos) não conseguir fazê-lo, não repassar essa parte do salário para os banqueiros que detêm a dívida pública. E se não repassa o fruto do seu trabalho para os vampiros que sugam a nação inteira, o cidadão é multado, vai preso.
O Estado atropela direitos básicos do povo, como acesso pleno ao sistema de saúde, à assistência social, à aposentadoria, a um emprego digno, para economizar dinheiro para os banqueiros. Por causa disso milhões de pessoas não conseguem medicamentos, moram na rua ou em barracos, se aposentam no leito de morte, pedem esmola. Isso não só não é crime, como é obrigação do Estado garantir esse roubo. E os responsáveis por esse roubo (os banqueiros, sua imprensa, sua polícia, seus políticos de direita e de esquerda) martelam nas nossas cabeças que é preciso combater o "crime organizado"! A polícia garante esse roubo dando borrachada e tiro em quem levanta a cabeça contra isso, ou, como no Alemão e na Penha, executando chacinas para evitar que os pobres levantem a cabeça contra o verdadeiro crime organizado.
Para dar legitimidade à repressão, a burguesia encomenda e manipula pesquisas de opinião para apresentar o morticínio de pobres como se fosse apoiado pelas próprias vítimas, ela promove uma campanha sistemática e paciente durante décadas sobre a segurança pública e o combate ao crime, uma das maneiras pelas quais o imperialismo choca o ovo da serpente fascista - e ainda consegue capturar quem se passa por "esquerda raiz" dizendo que pobre gosta de viver sob as botas do Estado.
Nenhum sindicato, nenhum partido construído pelos trabalhadores e oprimidos, nenhuma associação de moradores de favelas apoia a repressão policial. Pelo contrário, sempre a combateram. As pesquisas encomendadas pelos institutos da burguesia, pretensamente técnicas, mesmo que fossem imparciais e honestas, não poderiam refletir o verdadeiro sentimento popular. Uma pessoa que fala da boca para fora, que responde a uma pergunta em uma ocasião pontual, não está expressando o seu sentimento verdadeiro, profundo.
A qualidade da opinião é mais expressiva do verdadeiro sentimento popular do que a quantidade de opiniões expressa em pesquisas. Onde há apoio à repressão estatal nos setores explorados, esse apoio é passivo, porque a característica principal desses setores, que estão na retaguarda das classe oprimidas, é a apatia, a passividade, porque não nutrem crenças nem esperanças em nada. São os setores mais atrasados e desorganizados politicamente, que na realidade são indiferentes à política e à atuação policial. É um apoio "morto". Se fosse um verdadeiro apoio à repressão policial, este apoio seria ativo e organizado, como o da classe média conservadora e da burguesia. Mas não é.
O apoio ativo e organizado por parte dos pobres está no combate à repressão. Sempre que há uma chacina, os moradores respondem com manifestações de rua, com campanhas de protesto, denúncias e movimentos em rechaço à violência estatal. Uma manifestação de rua, uma barricada, um protesto radicalizado expressa com uma nitidez incomparável o verdadeiro sentimento popular, enquanto que uma pesquisa encomendada pela burguesia, no melhor dos casos, não passa de manifestação da apatia e passividade dos setores atrasados politicamente.
O neoliberalismo pulverizou a classe operária e fez retroceder sua consciência política. Esses setores mais atrasados politicamente, devido à sua desorganização e à marginalização da vida social, embrutecidos pela ditadura da burguesia, são reféns das condições impostas pelo domínio do imperialismo na era neoliberal. Quaquá propõe, portanto, que o conjunto dos trabalhadores e oprimidos se renda a essas condições, a essa apatia, a essa passividade e a essa vulnerabilidade que propicia o controle completo da massa empobrecida pelos seus inimigos de classe. Defender a vitória dessa situação é apoiar o esmagamento cruel do povo pela burguesia através do Estado sustentado pelas ONGs e especuladores financeiros identitários aos quais Quaquá finge se opor. Quaquá é um impostor: se diz "esquerda raiz", mas está mais para um galho esquerdo da árvore da ditadura fascista que está nascendo.